Alex tinha 28 anos quando o fascismo o assassinou

Alex, uma vida inteiramente<br>dedicada ao Partido,<br>aos trabalhadores e ao povo

Manuel Rodrigues

CENTENÁRIO O jovem ope­rário Al­fredo Dinis (Alex) era um des­ta­cado mi­li­tante e di­ri­gente do PCP quando, em 1945, foi brutal e cor­bar­de­mente as­sas­si­nado pela PIDE. O seu exemplo de de­di­cação e co­ragem per­ma­nece.

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Al­fredo da As­sunção Dinis (Alex) nasceu em Lisboa há cem anos, a 29 de Março de 1917, quatro anos antes da fun­dação do PCP. Oriundo de uma fa­mília de fracos re­cursos eco­nó­micos, cedo in­gressou no mundo do tra­balho, re­par­tindo, como acon­teceu com muitos jo­vens nesta época, a sua ado­les­cência entre o tra­balho e o es­tudo noc­turno.

Ope­rário de­se­nhador de má­quinas da Parry & Son (Ca­ci­lhas), adere com 19 anos à Fe­de­ração das Ju­ven­tudes Co­mu­nistas e as­sume ta­refas na Secção Por­tu­guesa do So­corro Ver­melho In­ter­na­ci­onal, mi­li­tando num Co­mité de Zona de Lisboa bem como no Co­mité local. Em con­sequência desta ac­ti­vi­dade, foi preso em Agosto de 1938, com apenas 21 anos, e con­de­nado a 18 meses de prisão.

Saído do cár­cere, re­tomou de ime­diato a ac­ti­vi­dade po­lí­tica e, ao ini­ciar-se a dé­cada de 40 do sé­culo pas­sado, par­ti­cipa na re­or­ga­ni­zação do Par­tido de 1940-41, de que Álvaro Cu­nhal foi o mais des­ta­cado obreiro. É se­cre­tário da cé­lula do PCP nos es­ta­leiros na­vais Parry & Son, pas­sando a in­te­grar, poucos meses de­pois, o Co­mité Local de Al­mada.

Lutas, re­or­ga­ni­zação
e re­forço do Par­tido

Em Ou­tubro-No­vembro de 1942 a re­gião de Lisboa é agi­tada pelas jor­nadas de luta rei­vin­di­ca­tiva da classe ope­rária, pug­nando por me­lhores con­di­ções de vida. Nessa al­tura, a acção di­ri­gente do Par­tido não se fazia ainda sentir ca­paz­mente, mas al­gumas das suas or­ga­ni­za­ções de base as­su­miram des­ta­cado papel na con­dução das greves, sendo Al­fredo Dinis um dos en­tu­si­astas e em­pe­nhados com­ba­tentes nas mo­vi­men­ta­ções e lutas das massas tra­ba­lha­doras. Pela sua par­ti­ci­pação des­ta­cada como or­ga­ni­zador e di­na­mi­zador da luta neste mo­vi­mento gre­vista, Al­fredo Dinis passou à clan­des­ti­ni­dade de­vido ao facto de o cerco po­li­cial em seu redor se ter aper­tado – é desta data o pseu­dó­nimo Ale­xandre, do qual usava apenas Alex.

Dessas lutas, o jovem mi­li­tante co­mu­nista re­tirou en­si­na­mentos que se re­ve­la­riam muito úteis para a or­ga­ni­zação das grandes greves de Julho-Agosto de 1943, em que par­ti­ci­param mais de 50 mil tra­ba­lha­dores de Lisboa e dos ar­re­dores e nas quais Alex tem um papel pre­pon­de­rante como res­pon­sável pelo Co­mité de Greve, em li­gação di­recta com o Se­cre­ta­riado do Co­mité Cen­tral.

Alex era já fun­ci­o­nário do Par­tido em 1943 e é como membro do Co­mité Re­gi­onal de Lisboa que de­sen­volve grande ac­ti­vi­dade com vista ao re­forço da or­ga­ni­zação do Par­tido e à mo­bi­li­zação dos tra­ba­lha­dores. Em fi­nais desse ano, no I Con­gresso ilegal do Par­tido, foi eleito para o Co­mité Cen­tral. No ano se­guinte in­te­grava o co­mité di­ri­gente das grandes greves de 8 e 9 de Maio.

A greve pelo pão

Neste pe­ríodo, a Se­gunda Grande Guerra as­so­lava o Mundo e, en­quanto as forças nazi-fas­cistas es­ma­gavam a Eu­ropa, Sa­lazar, cúm­plice ac­tivo, ali­men­tava as hostes nazis com gé­neros e mer­ca­do­rias rou­badas ao con­sumo na­ci­onal, agra­vando a ca­rência e exa­cer­bando o mal-estar so­cial.

Em Abril de 1944, o fas­cismo im­punha o ra­ci­o­na­mento do pão. Seis dias de­pois, Al­fredo Dinis es­crevia uma carta ao Se­cre­ta­riado do CC, sobre a pos­si­bi­li­dade de uma nova greve, afir­mando: «Con­si­de­rando o mês de Maio como um mo­mento ex­cep­ci­o­nal­mente es­plên­dido para um mo­vi­mento na­ci­onal de luta pelo pão» e «todas as con­di­ções in­ternas e ex­ternas se reúnem para isso».

Neste con­texto, exis­tindo con­di­ções muito fa­vo­rá­veis para novas ini­ci­a­tivas de massas, o Se­cre­ta­riado do CC de­cide avançar na mon­tagem de um apa­relho de agi­tação e di­recção da greve, o Co­mité Di­ri­gente da Greve, que além de Al­fredo Dinis in­te­grava Sérgio Vi­la­ri­gues, Dias Lou­renço, Jo­a­quim Cam­pino e Gui Lou­renço, sob o con­trolo de Álvaro Cu­nhal e José Gre­gório. A greve pelo pão e pelos gé­neros viria a re­a­lizar-se com grande su­cesso nos dias 8 e 9 de Maio de 1944, cons­ti­tuindo um novo marco na his­tória do Par­tido e da luta an­ti­fas­cista, como as­si­na­lava Al­fredo Dinis na reu­nião do CC de 30 de Maio de 1944: «O que é ab­so­lu­ta­mente novo para nós é termos mo­bi­li­zado no mesmo dia e à mesma hora mi­lhares de ope­rá­rios e mi­lhares de cam­po­neses, na mesma luta, pelos mesmos ob­jec­tivos. É o termos posto em marcha ombro com ombro ope­rá­rios e cam­po­neses.»

Con­si­de­rando-as como o maior mo­vi­mento de massas após a im­plan­tação do fas­cismo em Por­tugal, Álvaro Cu­nhal re­fere-se a estas greves des­ta­cando a sua par­ti­cular im­por­tância e sig­ni­fi­cado: «não é por acaso que nas greves de 1943-1944 a Di­recção do Par­tido, con­cre­ta­mente o Se­cre­ta­riado do Par­tido, tomou nas suas mãos a di­recção di­recta da greve. O Par­tido com­pre­endeu que havia que jogar forte no de­sen­vol­vi­mento do mo­vi­mento ope­rário e nessas greves para criar uma base re­vo­lu­ci­o­nária, uma base de massas, para as­se­gurar, como as­se­gurou daí em di­ante, uma in­ter­venção muito mais ope­ra­tiva na luta an­ti­fas­cista». (Álvaro Cu­nhal, Duas In­ter­ven­ções numa Reu­nião de Qua­dros, Edi­to­rial Avante!, Lisboa, p. 25).

«A classe ope­rária – re­fere ainda Álvaro Cu­nhal – mos­trou, pela sua in­ter­venção e pela sua força or­ga­ni­zada por ini­ci­a­tiva do Par­tido e por acção do Par­tido, ser a força de van­guarda, a força di­na­mi­za­dora da luta an­ti­fas­cista» (idem, ibidem, p. 24).

Exemplo de uma vida

Pela sua com­ba­ti­vi­dade e fir­meza Alex torna-se um alvo de pri­meira im­por­tância para o fas­cismo. Quando, como por todo o mundo, os tra­ba­lha­dores e o povo por­tu­guês co­me­mo­ravam o fim da Se­gunda Guerra Mun­dial e a pe­sada der­rota in­fli­gida ao nazi-fas­cismo, no dia 4 de Julho de 1945 Alex di­rigia-se de bi­ci­cleta pela es­trada de Bu­celas para par­ti­cipar na pri­meira reu­nião do novo or­ga­nismo de di­recção de toda a re­gião de Lisboa, Alto e Baixo Ri­ba­tejo e de toda a re­gião sa­dina ao Sul do Tejo, quando foi in­ter­cep­tado por uma bri­gada da PVDE (mais tarde PIDE/​DGS) e ali mesmo bru­tal­mente as­sas­si­nado a tiro.

No se­xa­gé­simo ani­ver­sário do as­sas­si­nato de Al­fredo Dinis, o Se­cre­ta­riado do Co­mité Cen­tral do PCP re­cor­dava o odioso crime co­me­tido pela di­ta­dura fas­cista, as­si­na­lando: «A luta contra o fas­cismo e pela li­ber­dade, a luta em de­fesa das con­quistas de Abril e a longa his­tória do PCP são in­se­pa­rá­veis de su­ces­sivas ge­ra­ções de re­vo­lu­ci­o­ná­rios que, como Al­fredo Dinis, de­fron­taram co­ra­jo­sa­mente a re­pressão fas­cista e su­por­taram enormes sa­cri­fí­cios por um Por­tugal livre, de­mo­crá­tico e so­ci­a­lista». E su­bli­nhava que «a me­lhor ho­me­nagem que se pode prestar ao ca­ma­rada Al­fredo Dinis é tomar-se como exemplo a sua vida de de­di­cação ao Par­tido, de fir­meza re­vo­lu­ci­o­nária, de em­pe­nha­mento no de­sen­vol­vi­mento da or­ga­ni­zação e da luta dos tra­ba­lha­dores, pelo pão, pelo di­reito ao tra­balho, pela li­ber­dade, a de­mo­cracia e o so­ci­a­lismo».

A vida de Al­fredo Dinis (Alex), que o fas­cismo ceifou bru­tal­mente, cons­titui de facto um exemplo de de­di­cação ao Par­tido aos tra­ba­lha­dores e ao povo. Su­blime causa que as ge­ra­ções de co­mu­nistas dos dias de hoje pros­se­guem, nas lutas do pre­sente pela de­fesa, re­po­sição e con­quista de di­reitos, pela con­cre­ti­zação de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, pela de­mo­cracia avan­çada vin­cu­lada aos va­lores de Abril, pelo so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo.

 

Ho­me­nagem em Lisboa
no dia 29


O PCP evoca a vida e a luta de Al­fredo Dinis numa sessão pú­blica a re­a­lizar no pró­prio dia em que cum­priria cem anos: 29 de Março. A evo­cação, que se re­a­liza na Casa do Alen­tejo, tem início mar­cado para as 18 horas.

Para além da in­ter­venção de Je­ró­nimo de Sousa, Se­cre­tário-geral do PCP, a ini­ci­a­tiva conta ainda com um mo­mento cul­tural e com a inau­gu­ração de uma ex­po­sição evo­ca­tiva deste des­ta­cado di­ri­gente e mi­li­tante co­mu­nista, que o fas­cismo as­sas­sinou ainda jovem. O co­lec­tivo par­ti­dário, os de­mo­cratas e an­ti­fas­cistas, pre­servam a sua me­mória que lhes serve de ins­pi­ração e exemplo para as lutas que con­ti­nuam.

 

As lutas de 1944 vistas
por Álvaro Cu­nhal
 

«A or­ga­ni­zação de greves deve me­recer par­ti­cular atenção. As greves não se de­cretam, mas de­cidem-se e de­claram-se. Para o fazer com êxito é ne­ces­sário co­nhecer de perto a dis­po­sição das massas, co­nhecer a evo­lução da luta e es­co­lher o mo­mento justo. A per­cepção re­vo­lu­ci­o­nária e a au­dácia dos mi­li­tantes re­pre­sentam um im­por­tante papel. Vinte anos atrás, o êxito de al­gumas im­por­tantes greves di­ri­gidas pelo Par­tido deveu-se em grande parte à acção de um mi­li­tante des­ta­cado: Al­fredo Dinis, ope­rário da Perry & Son, as­sas­si­nado pela PIDE em 1945.

Al­fredo Dinis co­nhecia pro­fun­da­mente os pro­blemas da classe ope­rária, co­nhecia a classe, acom­pa­nhava dia a dia as lutas dos sec­tores que lhe es­tavam con­fi­ados, era um óp­timo or­ga­ni­zador das lutas rei­vin­di­ca­tivas e mais de uma vez foi ele a dizer au­da­ci­o­sa­mente à di­recção do Par­tido: «O mo­mento para a greve é agora!» E acer­tava. As or­ga­ni­za­ções ope­rá­rias do Par­tido devem tra­ba­lhar, na luta rei­vin­di­ca­tiva, com o en­tu­si­asmo e a con­fi­ança com que tra­ba­lhava Al­fredo Dinis. Tal como ele, ao or­ga­ni­zarem as pe­quenas lutas rei­vin­di­ca­tivas, devem olhar sempre au­da­ci­o­sa­mente em frente, pro­cu­rando in­can­sa­vel­mente alargar as lutas, uni­ficá-las, fundi-las, con­duzi-las a etapas su­pe­ri­ores, en­con­trando em cada fase formas efi­ci­entes de or­ga­ni­zação.»

Álvaro Cu­nhal, Rumo à Vi­tória, Edi­to­rial «Avante!». Lisboa, 2001, pp. 248-249.

 

Alex e as greves

«No dia 9 da manhã, os nossos ca­ma­radas de Sa­cavém co­me­çaram a or­ga­nizar uma ma­ni­fes­tação que fosse a Loures, re­clamar mais pão ao ad­mi­nis­trador. Como as forças da PSP e muitos po­lí­cias de in­for­mação ocu­passem as prin­ci­pais vias de Sa­cavém, pren­dendo todos os tra­ba­lha­dores que pas­savam, os nossos ca­ma­radas lan­çaram da pa­lavra de ordem: “Todos os tra­ba­lha­dores e mu­lheres se devem di­rigir em grupos pe­quenos para Ca­ma­rate, nin­guém uti­lize as es­tradas; vamos por fa­zendas e azi­nhagas.” Assim se fez. Cen­tenas de ho­mens e mu­lheres di­ri­giram-se para lá. Pouco de­pois das 10 horas par­tiram de Ca­ma­rate para Ape­lação mais de 1000 pes­soas.

«Aqui jun­taram-se, além dos ope­rá­rios da fá­brica de mu­ni­ções, muitas cen­tenas de cam­po­neses de vá­rios lados. Já com mais de 2000 ma­ni­fes­tantes, a marcha pros­se­guiu o ca­minho para Fri­elas e Loures. Até Loures a ma­ni­fes­tação foi sempre en­gros­sando e, quando lá chegou, por volta do meio-dia, tinha já mais de 3000 pes­soas. Três ban­deiras ne­gras flu­tu­avam. Mi­lhares de vozes gri­tavam que que­riam pão. O ad­mi­nis­trador disse que ia pro­curar re­solver tal si­tu­ação. Ainda que ele não re­solva nada, o Par­tido Co­mu­nista e os tra­ba­lha­dores já con­se­guiram uma grande vi­tória.»

Al­fredo Dinis (Alex), As Lutas de 8 e 9 de Maio e a Ali­ança do Pro­le­ta­riado e do Cam­pe­si­nato




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